Acho incrível como algumas
lideranças evangélicas reduziram discussões fundamentais da sociedade, a um
discurso apenas na área da nossa conceituação moral.
Entendo ser o papel da igreja
se posicionar, mas com uma visão mais ampla das discussões que envolvem a todos
nós como cidadãos.
Lembra da lei do divórcio? Do
aborto em casos de estupro, risco de vida da mãe, bebês anencéfalo, lembra?
Todas essas leis, a igreja se posicionou contrariamente por razões íntimas da
sua fé. Mas elas se tornaram realidades. E eu te pergunto: deixou a igreja de
ser igreja ou de se posicionar contrária a essas novas realidades sociais?
A igreja de Jesus, sempre
estará na contramão do sistema maligno que rege o mundo. E esse sistema independe
de partidos ou pessoas. O mundo jaz no maligno.
Portanto, entendo que temos que
ampliar nossa visão. Somos cidadãos dos céus (pela fé cremos nisso), mas não
podemos perder nossa capacidade em discutir as coisas pertinentes a nossa
cidadania terrena. Coisas e realidades que afetam nosso dia a dia como
brasileiros.
Por que algumas lideranças da
igreja dizem que não devemos votar em Dilma? Digam? Os que dizem não
votar em Dilma, dizem que não votarão, pois ela é a favor do aborto, do
casamento entre pessoas do mesmo sexo e outros temas que a igreja ou boa parte
dela, se posiciona contrariamente.
Aí começa o engodo. Vamos votar
em Aécio por que Aécio é contra tudo isso. Mentira! Aécio como qualquer outro
político, tem um discurso pra igreja e outro pra fora da igreja. Essa é a
realidade.
Não temos o direito de privar
políticos a pensarem diferentes de nós. Não é por que pensam diferentes que são
instrumentos do mal.
Me lembro que em 2010 parte das
lideranças das igrejas evangélicas exigiram para votar em Dilma, que ela se
comprometesse a não colocar o tema aborto em discussão no país, como tema
proposto por ela enquanto governante. E Dilma cumpriu até aqui.
Quando o ministério da educação
quis empurrar o "kit gay" nas escolas, a igreja gritou e Dilma atendeu.
Quando se suscitou, discutir a questão do aborto, via Planalto, a igreja
gritou, lembrando a presidenta do seu compromisso antes da eleição e Dilma não
deixou a discussão prosseguir.
Ainda no governo Lula, quando
tentaram ameaçar violar o direito da igreja como entidade civil, foi Lula, por
pressão das lideranças e parlamentares eleitos pela igreja, que garantiu a
liberdade da igrejas na reforma do código civil brasileiro.
Esse é nosso papel e dever.
Mas, precisamos entender também, que alguns de nossos interesses, por mais
nobres que sejam, serão ofendidos, atropelados, por interesses contrários ao
nosso, pois isso faz parte dos conflitos sociais. Isso é democracia. A igreja
terá que aprender a conviver com essas novas realidades sociais e ao mesmo tempo
se manter firme em suas convicções.
Volto a dizer: temos que
ampliar nossa visão política, para além do nosso umbigo. Para além dos nossos
interesses de fé, ainda que corretos e nobres.
Votar ou deixar de votar pelas
propostas concretas e reais. Tenho que julgar se a política adotada, por esse
que me pede o voto, se no governo esteve, atingiu ou não os interesses da
sociedade. É assim que devemos votar, como cidadãos. Deixando de satanizar
aqueles que não possuem nossos padrões morais, pois não tem a mesma consciência
de fé que temos. Vivemos em uma sociedade plural, onde o Estado precisa
enxergar a todos, e não somente a igreja.
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