sábado, 25 de outubro de 2014

Temos que aprender votar

Acho incrível como algumas lideranças evangélicas reduziram discussões fundamentais da sociedade, a um discurso apenas na área da nossa conceituação moral.

Entendo ser o papel da igreja se posicionar, mas com uma visão mais ampla das discussões que envolvem a todos nós como cidadãos.

Lembra da lei do divórcio? Do aborto em casos de estupro, risco de vida da mãe, bebês anencéfalo, lembra? Todas essas leis, a igreja se posicionou contrariamente por razões íntimas da sua fé. Mas elas se tornaram realidades. E eu te pergunto: deixou a igreja de ser igreja ou de se posicionar contrária a essas novas realidades sociais?

A igreja de Jesus, sempre estará na contramão do sistema maligno que rege o mundo. E esse sistema independe de partidos ou pessoas. O mundo jaz no maligno.
Portanto, entendo que temos que ampliar nossa visão. Somos cidadãos dos céus (pela fé cremos nisso), mas não podemos perder nossa capacidade em discutir as coisas pertinentes a nossa cidadania terrena. Coisas e realidades que afetam nosso dia a dia como brasileiros.

Por que algumas lideranças da igreja dizem que não devemos votar em Dilma? Digam?  Os que dizem não votar em Dilma, dizem que não votarão, pois ela é a favor do aborto, do casamento entre pessoas do mesmo sexo e outros temas que a igreja ou boa parte dela, se posiciona contrariamente.

Aí começa o engodo. Vamos votar em Aécio por que Aécio é contra tudo isso. Mentira! Aécio como qualquer outro político, tem um discurso pra igreja e outro pra fora da igreja. Essa é a realidade.
Não temos o direito de privar políticos a pensarem diferentes de nós. Não é por que pensam diferentes que são instrumentos do mal.

Me lembro que em 2010 parte das lideranças das igrejas evangélicas exigiram para votar em Dilma, que ela se comprometesse a não colocar o tema aborto em discussão no país, como tema proposto por ela enquanto governante. E Dilma cumpriu até aqui.


Quando o ministério da educação quis empurrar o "kit gay" nas escolas, a igreja gritou e Dilma atendeu. Quando se suscitou,  discutir a questão do aborto, via Planalto, a igreja gritou, lembrando a presidenta do seu compromisso antes da eleição e Dilma não deixou a discussão prosseguir.

Ainda no governo Lula, quando tentaram ameaçar violar o direito da igreja como entidade civil, foi Lula, por pressão das lideranças e parlamentares eleitos pela igreja, que garantiu a liberdade da igrejas na reforma do código civil brasileiro.

Esse é nosso papel e dever. Mas, precisamos entender também, que alguns de nossos interesses, por mais nobres que sejam, serão ofendidos, atropelados, por interesses contrários ao nosso, pois isso faz parte dos conflitos sociais. Isso é democracia. A igreja terá que aprender a conviver com essas novas realidades sociais e ao mesmo tempo se manter firme em suas convicções.

Volto a dizer: temos que ampliar nossa visão política, para além do nosso umbigo. Para além dos nossos interesses de fé, ainda que corretos e nobres.


Votar ou deixar de votar pelas propostas concretas e reais. Tenho que julgar se a política adotada, por esse que me pede o voto, se no governo esteve, atingiu ou não os interesses da sociedade. É assim que devemos votar, como cidadãos. Deixando de satanizar aqueles que não possuem nossos padrões morais, pois não tem a mesma consciência de fé que temos. Vivemos em uma sociedade plural, onde o Estado precisa enxergar a todos, e não somente a igreja.

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